domingo, 21 de março de 2010

Capela de Nossa Senhora da Estrela

Capela de Nossa Senhora da Estrela

Do livro "O Culto de Nossa Sra." do Pde. João Marques Lopes Publicado em 1942

Diz o livro : « Pela estrada que leva à Serra, a caminho da Sra. do Desterro, antes de chegar às fábricas de lanifícios, quem se detiver, por momentos, nesta altura do seu passeio à Estrela, admira , em primeiro lugar, uma das mais belas paisagens que de S. Romão se pode divisar. Uma enorme planície, com ligeiras ondulações, cravada de vilas e aldeias, enormes veigas onde há soberbos milheirais, atrai, em seguida, as atenções dos visitantes.

Lá muito longe, à direita, está o templo de Nossa Senhora do Castelo de Mangualde, no cimo de um alto monte, a dizer-nos que até se estende a devoção do povo das Beiras à Santíssima Virgem. Esta nossa região foi de sobremaneira atacada pelos povos bárbaros ( talvez os árabes ).

Os fiéis, antes da aproximação dos invasores, fugiam com as imagens a que consagravam maior devoção, e escondiam-nas em penhascos abertos nas rochas, para que não fossem, roubadas e queimadas ou reduzidas a pó.

Diz a lenda que os pastores colocaram num destes penhascos e nestas imediações uma imagem de Nossa Senhora e quem cá de baixo pudesse ver, nas manhãs claras, notava que a Estrela da Manhã era o seu resplendor. Daí a chamarem-lhe Nossa Senhora da Estrela. Mais ou menos neste lugar existe, ainda hoje, uma Capela consagrada a Nossa Senhora da Estrela, único vestígio do Convento de Santa Maria da Estrela de monges cistercienses que os cronistas, tais como frei Bernardo de Brito, localizam na Serra do mesmo nome. A origem desta Capela com o seu Mosteiro anexo é curiosa. Diz-se que foi mandada construir por Egas Moniz.

A Lenda do Urso ou de Egas Moniz

A Serra foi, em tempos remotos, infestada por feras, tais como: javalis, ursos, porcos monteses, etc. Isto foi objecto de grandes caçadas nestes sítios. Há muitos séculos que alguns destes animais desapareceram destas paragens. Os frequentes ataques dos sarracenos motivaram a vinda de Egas Moniz a estes lugares, a fim de lhes prestar socorro. É tradição que o aio de Afonso Henriques aproveitava os tempos livres para fazer as suas caçadas aos ursos e porcos monteses. Num dia em que dava, no interior da Serra, uma batida a estas feras, casualmente separado da sua comitiva e aguardando a chegada de alguma fera, vê chegar a si uma monstruosa ursa acossada pelas vozes dos caçadores e latido dos cães.

Egas Moniz arremeteu contra ela e feriu-a com a lança. Enfurecida lança-se contra o cavalo e obriga Egas Moniz a apear-se e a defender-se com a sua espada. Em seguimento desta fera, vinha um urso, que vendo a fêmea ferida, com grande ímpeto se arremessa contra Egas Moniz., que se vê agora, obrigado a combater, a pé e frente a frente, o feroz inimigo. Foi lutando com a sua espada e recuando sempre até se guardar, pelas costas, junto dumas rochas que jaziam numa espécie de gruta. Lembra-se, entretanto, de invocar o auxílio da virgem e, sem demora, os ursos caem por terra fulminados.

Olhando para trás, vê nessa gruta uma imagem de Nossa Senhora dessas que os pastores ali haviam colocado. Deu graças à sua celeste protectora e fez o voto de lhe erigir uma Capela aumentando-a com um Mosteiro. Depois de dar graças, toca a sua buzina. os companheiros aparecem e tomam conhecimento do miraculoso sucesso. Todos ajoelham para venerar a sagrada imagem. As guerras em que nesta data se viam envolvidos os portugueses só permitiram a seu filho Lourenço Viegas, dar cumprimento à promessa do pai em 1149.

m 1161 o convento estava concluido. Neste mesmo ano acrescentou novas doações às já feitas por seu pai e foi o Mosteiro povoado com frades do Mosteiro de Alcobaça da Ordem de Cister, o mais florescente dessa ordem. Anos depois foi o Convento assolado por um violento incêndio ficando os escombros ao abondono por muito tempo. Em 1220, D. Mendo, abade de Maceiradão, reedificou-o. Finalmente, fundando-se em Coimbra o Colégio de S. Bernardo, anexaram-lhe, para sustentação dos colegiais, esta abadia de Nossa Senhora da Estrela com as suas rendas, ficando ali sòmente um religioso para celebrar a Santa Missa e cuidar da decência do templo.

Presentemente (1942), como acima se disse, existe apenas a Capelinha de linhas muito singelas. Contam os antigos que a Capela primitiva era apenas a parte da Capela-Mor da actual e estava coberta com lages. O Altar também não é o primitivo. No alto tem uma pintura de S. Geraldo. Mais abaixo, ao lado do Evangelho, outra pintura representando o Anjo Gabriel e em frente, do lado da Epístola, Nossa Senhora no Mistério da Anunciação. No fundo há mais duas pinturas, uma de Santa Teresa e outra de Santa Catarina de Sena. A imagem de Nossa Senhora da Estrela que aqui se venera, parece ser a primitiva. É de rocha calcárea, pequenina e tosca.»

Nota 1- A Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, diz que as façanhas locais de Egas Moniz nos Hermínios não constam de qualquer notícia documental ( não são provadas por documentos existentes ), antes são contraditas por todas as circunstâncias históricas que mostram a zona de Seia depois de 1057 continuamente em poder dos cristãos, e que o Mosteiro de Santa Maria de Seia ou da Estrela não passa de uma lenda.

Nota 2 - Em um dos seus progamas da RTP2, o Prof. José Hermano Saraiva, disse que se deve dizer Nossa Senhora de Estrela e não da Estrela. Afirmou ele, claro, explicando as razões !

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