quarta-feira, 24 de março de 2010

O Padre José Maria da Cruz Amaral OFM

O Padre Franciscano José Maria da Cruz Amaral, nasceu em São Romão em 2 de Novembro de 1910, filho de António Maria da Cruz e de Maria Benedita Mendes. Faleceu em 19 de Abril de 1993 no Seminário da Luz em Lisboa. Foi sepultado em São Romão. Em 1921 foi para Tui, Espanha, onde fez o Liceu e tira o curso de Filosofia. Em 1935 completou o curso de Teologia no Seminário do Varatojo e foi ordenado sacerdote franciscano.


Quase todas as suas actividades de sacerdote franciscano desenvolveram-se em África durante cerca de 38 anos. Esteve em Moçambique na missão de Amatongas, no Chimoio e terminou por ser colocado na Beira onde orientou o semanário Missão Africana. Também aí foi um dos criadores da Emissora Aero-Clube da Beira. Em 1943 foi também pároco de Vila Pery, e no ano seguinte regressou a Portugal e foi capelão substituto do Reformatório de S. Bernardino em Peniche.

Voltou ao continente Africano, à então província da Guiné, onde esteve até à revolução do 25 de Abril. Na Guiné, foi professor do Liceu Honório Barreto, vogal da Assembleia Legislativa, e até 1968 director do Arauto, o único jornal da Guiné que foi extinto pelo general Arnaldo Schultz, em represália contra a linha editorial do Arauto, que procurou denunciar a anarquia militar e civil do seu governo da província.

Depois da substituição de Schultz pelo general Spínola como governador da Guiné, este último convidou o Padre Cruz Amaral para director do novo jornal A Voz da Guiné, agora já jornal oficial da província

Esta sua nomeação para director do jornal oficial do governo da Guiné, trouxe-lhe bastantes conflitos com os seus superiores eclesiásticos, pois o Vaticano na altura, alinhava com a tese "Os Ventos da História", e não via com bons olhos o envolvimento do Padre José Maria, um religioso, nesse jornal oficial do Governo da Guiné. Esta pequena disputa Estado - Vaticano, que o padre José Maria da Cruz Amaral, nunca procurou, mas acabou por ser o elemento fundamental, marcaram-no bastante, e nunca gostou de falar do assunto.
Pdre. Cruz com as suas sobrinhas-netas
Na Guiné, de 1946 a 1955 foi também membro da administração da Emissora Oficial da Guiné, sendo por essa razão convidado como representante oficial da Guiné ás comemorações do V Centenário da morte do Infante D. Henrique, em 1960. Como jornalista, representando a imprensa local, integrou a comitiva da visita do Presidente Américo Tomás na sua deslocação a Moçambique.


De regresso a Portugal, a Ordem Franciscana deu-lhe a escolher o local onde gostaria de residir. Escolheu o Mosteiro do Varatojo, local calmo e sossegado, mas viajava muito a Lisboa, ficando sempre instalado em casa de amigos e familiares ou na casa da Ordem Franciscana, na Rua Silva Carvalho.

O Padre Cruz, como lhe chamava-mos, era um homem culto e modesto, escrevia muito bem, embora numa letra díficil de entender e gostava muito de literatura. Os seus autores preferidos eram o Eça de Queirós, Miguel Torga e muitos outros autores sérios. Amava os livros, e tinha uma boa biblioteca pessoal. Alguns amigos diziam-lhe brincando : - Ó Zé, tu não és mau padre, mas não nasceste para padre !

Gostava de coisas simples, de viajar, não gostando de ficar quieto muito tempo no mesmo sítio. Vinha com frequência a S. Romão, ficando sempre em casa da sua madrinha, a D. Ana Nogueira, ou Aninhas como lhe chamava, dizendo sempre missa na capelinha da casa. Creio que ninguém ainda se esqueceu das suas missas rápidas, que não demoravam mais de 10 a 15 minutos, pois raramente dizia homília.

Amigo de muitas famílias de São Romão, teve especial apreço pela família Gonçalves Dias, parece que desde Torres Vedras, de quem era muito estimado e em casa de quem ficava muitas vezes em Lisboa. Em 1984 passou, umas férias em casa de familiares em S. José da Costa Rica, e acabou por substituir o padre da paróquia de Morávia, que também tinha ido para férias.

Nessa paróquia, foi apresentado aos fiéis durante uma missa no Colégio de St. Francis, por outro franciscano, o padre André, que era o director do Colégio. Ficou muito admirado pelas palmas com que o aplaudiram dentro da igreja, depois de ter sido apresentado. Achou na altura, que isso representava uma boa comunicação, entre o celebrante e os fiéis daquela paróquia religiosa. Na sua despedida, fizeram-lhe uma grande festa de homenagem, pois durante esse pequeno período de tempo, a sua simplicidade e boa disposição franciscana, já lhe tinham feito muitos amigos.
Pdre. Cruz com a familia e também com Frei Jose de Monte Auverne e o superior do  Varatojo
Em 1985, comemorou as suas bodas de Ouro Sacerdotais, conjuntamente com Fr. José de Montalverne s eu colega de curso, que foram festejadas pela Ordem Franciscana, com uma missa e uma pequena festa para familiares e amigos na casa franciscana da Rua Silva Carvalho, sede da Província Franciscana em Portugal. A festa de comemoração repetiu-se também, dias depois, no Convento do Varatojo.


O autor desta página, considerava o Padre José Maria da Cruz Amaral como o melhor dos seus amigos, lembrando com saudade os passeios que dava com ele no claustro do Varatojo, nos bons momentos passados nas festas de Santo António, onde sempre comíamos com gosto e admiração no velho refeitório do Convento e das palestras durante os passeios pela quinta.

Lembro-me sempre, que um dia me disse, numa viagem de automóvel para São Romão, que não acreditava nos castigos do Inferno, pois não podia imaginar que Cristo se tivesse sacrificado pelos homens na Cruz, e depois estar lá em cima com um pau na mão, à espera de cada um de nós, para nos castigar pelas nossas faltas na terra.

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